Podemos conceituar a empresa familiar?
- Armando Lourenzo
- 13 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Esta é sem dúvida uma pergunta muito complexa de responder e vários especialistas procuram esta resposta, mas como resultado nunca conseguimos um conceito único e aceito por todos os especialistas.
Na tentativa de esclarecer o que seria a empresa familiar realizei estudos específicos e a partir disso defino a empresa familiar da seguinte maneira:
É a organização em que tanto a gestão administrativa quanto a propriedade são controladas, na sua maior parte, por uma ou mais famílias, e dois ou mais membros da família participam da força de trabalho, principalmente os integrantes da diretoria.
Este conceito é reflexo de minhas pesquisas e experiências com este tipo de organização, e entendo que pode ser útil para definir em termos operacionais a empresa familiar assim como facilitar as pesquisas deste tema. De certa maneira ele representa a objetividade do conceito deste tipo de organização.
Devemos analisar a possibilidade de a empresa familiar ser muito mais do que um conceito, e como expansão criei características para entendermos a empresa familiar a partir de diversas perspectivas.
Características da empresa familiar:
Confiança mútua entre os participantes da empresa;
Fatores emocionais interferem no comportamento e nas decisões da empresa;
Exigência de dedicação por parte dos funcionários (“vestir a camisa”);
Dificuldade em separar a família da empresa;
O sucessor provavelmente pertencerá à família;
Os valores da empresa identificam-se com os da família;
A posição de um membro da família na empresa reflete a sua situação familiar;
Dedicação e lealdade do funcionário como critérios para a sua permanência, remuneração ou promoção na empresa;
Dificuldade na descentralização do poder;
A seleção dos empregados e a escolha do sucessor usam os mesmos critérios: perfil parecido com o do dirigente (fundador);
Existência de conflitos entre os familiares.
Deve ser observado que nem todas as características são exclusivas de empresas familiares, podendo também ser encontradas em organizações nas quais é presente a “gestão do tipo familiar”.
Essas empresas normalmente tem uma gestão centralizada, que de um lado pode também ser positiva para a sociedade familiar, pois facilita o comando pelo fundador.
Por outro lado, a empresa familiar deve ser avaliada sob uma perspectiva de futuro em que esta primeira configuração de organização transforma-se em uma sociedade de herdeiros. Deste modo resulta em um risco para a continuidade deste tipo de empresa baseada em um sistema de gestão que serviu para a primeira fase da empresa, marcada pela presença do fundador.
A sociedade constituída pelos herdeiros tem embutida na sua própria natureza um fator inibidor à sobrevivência futura, ou seja, a sociedade é imposta devido ao fato dos integrantes não terem tido a liberdade de se escolherem. A grande dificuldade é fruto de os herdeiros confundirem gestão com propriedade e assim pensarem que, por terem herdado a propriedade, receberam naturalmente a empresa (gestão).
É importante que os fundadores percebam que não é uma empresa que deixaram para seus herdeiros, mas o que os herdeiros vão receber é a possibilidade de constituírem uma sociedade que, esta sim, será proprietária da empresa (Bernhoeft & Castanheira, 1995).
Os mesmos autores observam que, para a manutenção da sociedade familiar, sob forte pressão de fatores emocionais, é indicada a formação de acordos para a convivência entre os membros, baseados em determinados princípios:
A gestão e a propriedade devem ser compreendidas separadamente;
A remuneração do trabalho e a do capital são diferentes;
Existência de um sistema, confiável, que forneça informações para os membros;
Sistema de valores que mantenham os vínculos entre sucessos passados e desafios e inovações futuras;
Aceitação pela família e empresa de uma liderança comum; e
Confiança mútua.
Pense que além de entender a empresa familiar, esta deve ser vista por meio de múltiplas visões e que tem um grande desafio: a sua perpetuação.
Com certeza os herdeiros vão herdar uma parte do capital e não necessariamente um vínculo societário conquistado pelos mesmos valores e muitos anos de trabalho conjunto. Este é um ponto essencial e que nos remente ao termo: profissionalização societária. Este ponto será abordado nos próximos artigos.
___ BERNHOEFT, R., CASTANHEIRA, J. Manual de sobrevivência para sócios e herdeiros. São Paulo: Nobel, 1995.
Armando Lourenzo é Doutor em Administração e Mestre em Recursos Humanos pela FEA/USP. Professor, Escritor e Palestrante.
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