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Os conflitos na empresa familiar podem ser reduzidos?

  • Foto do escritor: Armando Lourenzo
    Armando Lourenzo
  • 6 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

É comum as empresas familiares serem caracterizadas pela presença de conflitos entre os sócios, os quais, muitas vezes são os próprios irmãos e/ou pais.


É possível, com uma avaliação precipitada sobre a existência de conflitos nas empresas familiares, ter-se a percepção de que eles não existem, porém na realidade os conflitos existem sim e estão abafados. As pesquisas nos mostram que 85% das empresas familiares têm conflitos.


Com o tempo esse tipo de prática – abafar os conflitos – faz com que os mesmos aumentem e fiquem incontroláveis, a empresa sofra as consequências e muitas vezes até desaparece.


Os principais agentes de conflitos são:

  • Pai versus filho,

  • Brigas entre irmãos,

  • Relação entre cônjuges e

  • Relação entre tios e primos.

Com relação ao relacionamento pai e filho, embora conscientemente o pai “convide” o filho a entrar na empresa, de maneira inconsciente o ciúme aparece e com ele, as brigas também. Percebe-se que discórdias entre mães e filhas são bem menores.

O relacionamento entre pai e filho muitas vezes é bom, apesar de as características a seguir também serem frequentes:

  • Existência de ciúme por parte do fundador;

  • Crescimento da influência do filho na empresa, não aceito pelo pai;

  • O pai pode ver ingratidão no filho quando este pede para sair da empresa;

  • Chantagem emocional (pressão para ingresso do filho na empresa);

  • Desejo de profissionalização da gestão por parte do filho;

  • Incompatibilidade nos perfis de gestão entre pai e filho;

  • Falta de capacidade empreendedora do herdeiro.

Essa relação complexa é estudada por diversas áreas da ciência. Tal conflito tem como motivos disputas por espaços e sentimentos de reconhecimento, admiração e frustração.

Muitas vezes existe uma disputa grande entre os irmãos pela atenção dos pais, que não é notada. Normalmente esses conflitos são originados numa época em que os filhos são bem jovens e tomam uma dimensão grande na fase adulta, misturando o relacionamento profissional com o pessoal. As principais características nesse tipo de relacionamento entre irmãos são:

  • Desconfiança do irmão;

  • Ciúme dos filhos pela exclusividade dos pais;

  • Filho mais novo pode ser visto pelo mais velho como incapaz e mimado pelos pais;

  • Relacionamento machista, colocando as filhas em segundo plano;

  • Luta pelo poder;

  • Filho busca maior reconhecimento em função de sua maior contribuição para com a empresa.

Dificilmente todos os conflitos serão eliminados, mas trabalhar para reduzi-los é fundamental. Todas as famílias têm seus problemas e seus conflitos; nas famílias mais integradas, no entanto, eles diminuem. As principais características de famílias integradas são:

  • Preocupação mútua dentre os membros da família;

  • Espaço para socialização e convivência;

  • Cultura familiar homogênea e aprendida como modo de lidar com situações adversas;

  • Comunicação como fator-chave para sobrevivência;

  • Existência de um membro líder e preocupado com a integração.

A comunicação é a chave para a redução de conflitos e contribui para evitar que ocorram. Um bom instrumento para auxiliar a comunicação é o acordo familiar, no qual se regula a convivência entre a empresa e a família através do estabelecimento de regras de conduta.

Além da comunicação, outros aspectos são importantes para a melhoria de conflitos entre pai e filhos:

  • O filho deve ser convidado, e não pressionado a entrar na empresa;

  • A existência de intensa comunicação entre pai e filho;

  • Respeito no trato e nas ideias de ambos;

  • Reconhecimento, por parte do filho, da experiência do pai;

  • Equilíbrio entre a expectativa do filho e a experiência do pai;

  • Existência de espaço para o filho crescer e amadurecer;

  • Intervenção de terceiros: empresário amigo, mediador ou consultor.

Com relação ao relacionamento entre os irmãos, eles devem esforçar-se muito para não perderem o respeito entre si. Além desse respeito, os filhos como profissionais devem ser tratados não de forma igual, mas segundo as suas competências. Para a melhoria dos conflitos entre irmãos recomendamos:

  • Compreensão das diferenças de perfis de todos os irmãos;

  • Participação de terceiros para o equilíbrio da situação;

  • Respeito no tratamento;

  • Estímulo ao trabalho em equipe;

  • Remuneração não deve ter o conceito de mesada;

  • Participação de pessoas isentas na promoção, avaliação de desempenho, desligamento e escolha do sucessor;

  • Comunicação intensa.

Conflitos entre os integrantes familiares podem ser identificados como os principais obstáculos à continuidade desse tipo de empresa. Esses problemas aparecem quando as dimensões família, empresa e sociedade têm sobreposições, sendo na interface dessas dimensões que surgem as dificuldades mais críticas.


Os conflitos são considerados algumas das principais dificuldades no ciclo de vida das empresas familiares e, nos momentos coincidentes com a troca de comando de uma geração familiar para outra, podem ser potencializados. É nitidamente difícil eliminar os conflitos nas famílias empresárias; porém eles devem ser gerenciados e reduzidos a níveis aceitáveis no que tange à perpetuação das mesmas.


Identificar os tipos mais comuns de conflitos é importante, mas conhecer suas verdadeiras causas é o que pode colaborar para sua redução. Somada a este conhecimento, a comunicação intensa entre os familiares e a existência de regras de convivência claras e aceitas por todos também podem constituir mecanismos de gerenciamento de conflitos nas empresas familiares.


Armando Lourenzo é Doutor em Administração e Mestre em Recursos Humanos pela FEA/USP. Professor, Escritor e Palestrante.

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